O Curioso Caso de Brizillda Button
Tal como no filme ao qual estou parafraseando, (O Curioso Caso de Benjamin Button), acho que nasci com uma espécie de síndrome, em que
estou vivendo a vida de trás para frente.
A diferença, no meu caso, é que ao invés dos sintomas serem
físicos, são psicológicos, tem relação com a maturidade emocional.
Explico, quando eu era adolescente era mal humorada,
ranzinza, tinha horror que puxassem assunto comigo em fila de banco, em ônibus.
Detestava andar em bando fazendo galinhagem, achava o ó!
Era cheia de manias, não gostava de usar roupa curta, nem
decote como se tivesse que ter semancol.
Conforme o tempo foi passando o gosto por turmas barulhentas
apareceu, assim como passei a usar e abusar dos decotes, ombros e costas de
fora. Fiz uma tatuagem quando já era mãe de família e outra com mais de 38 anos.
Hoje, adoro puxar uma conversinha em qualquer fila ou condução
lotada e os amigos e amigas da minha filha me adoram, pois eu converso, brinco
e falo gírias como qualquer uma delas.
Saco das bandas, escuto o som delas, sei qual é o
guitarrista ou cantor mais “Divo”. Tenho twitter, facebook, vejo séries pra
adolescentes como Teenwoof, tenho assunto com eles. Já participei até de
campeonato de videogame!
É claro que eu não me imponho, espero ser convidada, ou que
eles me integrem na conversa, o que a minha Babi se encarrega de fazer, porque
sabe que eu vou vir sempre com uma opinião baseada na realidade deles e não na
minha.
Tenho, contudo, o cuidado de fazê-los ver que, os pais tem
que ser respeitados e que suas opiniões e decisões são sempre pensando no bem
dos filhos, que o que ocorre muitas vezes é o que não ocorre comigo, eles não
sabem falar a linguagem dos adolescentes.
Os outros pais envelhecem normalmente e, como qualquer
pessoa normal, esqueceram de como foi ser adolescente, as crises, as dúvidas, a
dicotomia de ser criança para algumas coisas e não ser mais para outras.
Acabam por exigir desse ser em formação a coerência e a lógica
do adulto, mantendo as proibições e limitações da criança. É ou não é pra
colocar qualquer um doido? Isso é esquizofrênico! Não há nada mais esquizo do
que não se ganhar mais presente de dia das crianças e ouvir: “você já está
muito velho pra isso”, mas quando se quer namorar aí a resposta é: “Não! Você é
muito criança pra isso!”
Procuro, portanto, nunca perder de vista a minha adolescência
para poder compreender a dela e com isso, quem sabe, quando ela virar adulta,
evito regredir ao ponto de virar um bebê, tal como o filme, pois ao viver a
adolescência dela junto poderei viver a idade adulta também, sendo amiga, parceira.
Vejam bem, não estou aqui fazendo o que muitas mães fazem
que é viver a própria adolescência junto com a filha. Aí, nesse caso, é adolescência
tardia, deslocada, fora de contexto. A mulher que passa por isso entra em
competição com a própria filha, impõe a sua presença, força uma cumplicidade
que na realidade inexiste.
O que existe na realidade é o medo, por parte da filha, de
magoar a mãe ao dizer que quer privacidade, que precisa vivenciar as suas próprias
experiências sem o testemunho materno.
A mãe que faz isso compromete o amadurecimento emocional da
filha, que vai sentir que está sempre a sombra da outra.
Não podemos nunca nos esquecer que, por maiores que nossos
filhos estejam, seremos para eles sempre uma figura de autoridade, quer eles
queiram ou não, e não podemos nos utilizar dessa prerrogativa para invadir
espaços e ultrapassar limites.
Será que é por isso que algumas pessoas viram crianças
quando envelhecem, por não conseguirem parar esse processo de regressão de
maturidade? Ou será que é a falta de consciência do processo que faz isso?
Bem de qualquer forma, espero ter a clareza para reverter o meu
processo e envelhecer digna. Velha e ranzinza nunca mais, quero envelhecer com a
alegria de quem sabe que viveu tudo o que tinha pra viver nos seus devidos
momentos.