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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Cicatrizes da alma.



Em meio aos meus pensamentos me veio à recordação do meu primeiro dia de terapia.

Lembro-me de estar em profunda angústia existencial e na minha verborragia inicial falei: “ Eu não esqueço, é um problema que eu tenho sabe? Eu guardo rancor, posso até voltar as boas com alguém que me fez algo, mas jamais vou esquecer...”

Sempre lembro do meu professor de faculdade que dizia que o sofrimento psíquico é como uma ferida infeccionada, não se tem como curar sem limpar. Tem se que espremer todo o pus e isso dói, só então, depois de toda sujeira colocada pra fora, aí começar o processo de cura.

Acho que é por isso que quando estamos sofrendo tendemos a falar o tempo todo, somos os chatos que alugam os ouvidos dos bons amigos, os chorões da mesa de bar, estamos expurgando o pus daquela ferida.

Acontece, porém, que, em alguns casos, quando deveríamos permitir que a ferida começasse a fechar, ficamos futucando, arrancando a casca.

Como em um surto masoquista, numa febre, em delírio, ficamos remoendo nossas perdas, nossas dores, lembrando momentos, buscando justificativas, desculpas insanas, culpados, vitimas, algozes.

E sem que percebamos passam-se meses e anos sem que as feridas se fechem, pois fazemos questão de deixá-las abertas, alimentado a nossa autopiedade.

Não atentamos que, com o tempo, essa ferida começa a cheirar mal, a gangrenar.

Os nossos amigos, antes apiedados de nossa situação, que acreditavam ser transitória, agora já não suportam a nossa presença.

O sofrimento auto-infringido, masoquista, é uma visão muito feia e deprimente que impomos aos que nos amam e estes, por não mais suportarem ver cena tão triste, vão aos poucos se afastando, desconsolados com o desperdício de energia depositada em algo tão negativo.

Depois de três anos de terapia percebi que o objetivo não é, e nem nunca deve ser esquecer, pois afinal não quero sofrer de amnésia.

Esquecer seria correr o risco de repetir erros em novas experiências, afinal o que não esquecemos se transforma em aprendizado.

O objetivo é não mais sofrer com a lembrança, é deixar a ferida fechar, é se curar e curar-se não é esquecer-se, é abandonar a dor.

Às vezes nos apegamos à dor por medo do vazio, achamos que sem ela nada irá sobrar, ao contrário, ao abandoná-la, abrimos espaço para o retorno da alegria, deixamos os amigos nos pegarem pela mão e nos ajudarem a levantar.

 


Por fim sobrarão apenas cicatrizes, meras memórias de dores sofridas, como as dos soldados, testemunhos das batalhas travadas e vencidas.

Cada cicatriz que possuo é a lembrança de uma superação, me tornou o que sou, me tornou mais forte.

Realmente, como eu disse no meu primeiro dia de terapia eu não esqueço jamais e esse não é mais o meu objetivo, hoje tenho orgulho de cada marca, pois olho para elas, me lembro e não sofro mais.

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