Agora estou no twitter

Se quiser me siga @brizillda

quinta-feira, 22 de março de 2012

Trinta e Nove anos de reflexão

 




 Era madrugada do sábado de carnaval de 1973, meia-noite e cinquenta, um choro de bebê se ouve naquela maternidade da baixada fluminense.

- É menina, disse o médico.

- Hã? Menino? Perguntou a avó.

- Menina! Respondeu o médico.

- Hã? Perguntou incrédula a avó.

- É uma menina! Repetiu o médico.

- Menina?! A avó ainda incrédula.

-Sim, menina! Confirma o médico,  atônito com a incredulidade da avó, afinal só podia ser menino ou menina, cinquenta por cento de chance para cada lado, porque então a cara de quem ouviu algo improvável ou impossível?

   É, vejam como a vida é, a Brizilldinha aqui já chegou ao mundo dando rasteira no povo, frustrando não só a vovó, como a mãe, que havia se certificado, por todas as simpatias existentes e até com uma visita a um terreiro, de que era um menino.

 Tadinha, que decepção. O único que parecia feliz com a notícia era o pai, que acabara de chegar do baile, já meio caneado, cheio de confete no cabelo, convidando os cunhados pra ir no boteco tomar uma loirinha, o famoso xixi da criança.

   Sabe aquela velha expressão: quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré. Foi o meu caso, o tempo todo via nos olhos da minha mãe a decepção.

   Por mais que eu tentasse, nunca seria um menino, nem que eu me tornasse sapatão, seria apenas uma falsificação, um engodo.

   Todo o esforço do mundo para ser perfeita, boa filha, calma, educada, quieta, ótima aluna, não conseguiam apagar a ausência daquele pequeno pedaço.

   As críticas eram das mais variadas, se aos três anos falava perfeitamente, era uma criança sem graça porque não falava tati-bitati como as outras, se era quieta, era meio moloide, se falava muito, era chata, falava demais, se era inteligente, era chata, sabe-tudo.

   Ou seja, se corresse o bicho pegava, se ficasse o bicho comia.

   Aos seis anos nasceu o tão esperado e sonhado menino que para minha maior infelicidade tinha grandes e lindos olhos azuis.]

   Aquele sim era perfeito, além de ter pinto, tinha olhos azuis, iguais os dela.

   O pai, a essa altura, vivia mais tempo de porre do que sóbrio e na intenção de homenagear o poetinha, grande copo da época, resolveu dar o nome do dito ao garoto.

   Chegando ao cartório esqueceu qual era o nome e tacou Virgílio. Voltou todo orgulhoso pra casa dizendo, o nome do meu filho é igual ao do grande poeta Virgílio de Moraes, sacaram?

   Acho que foi por isso que nunca mais o vi sóbrio, também depois de uma cagada dessas.

   Sei o que vocês devem estar pensando, é isso mesmo, o meu irmão possui o mesmo nome do meu querido primo Virgílio (já citado aqui no texto Oh, dúvida cruel), coisas de família.

   Bem, se a coisa já tava ruim pro meu lado antes imagina depois, virei babá do guri. Se ele fizesse besteira a culpa era minha, se se machucasse a culpa era minha, ou seja, me f...

   Se antes se tentava disfarças a decepção, agora nem isso, era um tal de você tem o nariz muito grande, porque você não alisa esse cabelo, se você ganhar algum dinheiro com esse seu trabalho você bem que podia fazer uma plástica, suas pernas são tortas iguaizinhas as do seu pai.

  Coitado do velho, que a essas alturas já tinha empacotado de cirrose, mas nem em espírito era deixado em paz.

  Agora ai vai a resposta para a pergunta que deve estar afligindo o coração de vocês, porque diabos eu estou escrevendo sobre isso?

  Eu sei lá, vai ver eu sou maluca, igualzinha ao meu pai. (Risos)

Um comentário:

  1. Lembrei da nossa conversa lá em casa. Aprendi q falar e escrever sobre o que a gente fica ruminando ajuda a elaborar melhor as coisas dentro da gente.

    Mas olha aqui. Vc não chegou a jacaré não. Chegou sim foi a uma grande camaleoa. Q dá conta de tudo q todo mundo nem pensou q daria. E vai se adaptando direitinho ao q vem vindo.

    Te amo muito, minha querida!

    ResponderExcluir